quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Selma Lagerlöf


Comecei a ler "O Livro das Lendas" de Selma Lagerlöf, e logo no primeiro conto fiquei completamente agarrada à narrativa simples e extremamente sedutora desta fantástica Senhora. Este primeiro conto, intitulado "A Lenda de uma dívida" foi contado pela autora no banquete da entrega do Prémio Nobel a 10 de Dezembro de 1909.
Só para aguçar a curiosidade a alguns deixo-vos um pequeno trecho deste conto que é sobre uma conversa imaginária que a autora tem com o seu pai, que já tinha falecido, no dia em que ia receber o Prémio Nobel:



"- E não é de mais que me ajudes, porque a culpa, em princípio, é tua. Lembras-te de quando nos cantavas, acompanhando-te ao cravo, as árias de Bellman e de quantas vezes, no Inverno, nos fizeste ler e reler Tegner, Runeberg e Andersen? Foi assim que contraí a minha primeira e já tão grande dívida. Pai, como poderei pagar-lhes por me terem ensinado a amar os contos e os feitos heróicos, a pátria e a vida humana em toda a sua grandeza, em todas as suas fraquezas?
A estas palavras, o pai acomoda-se na poltrona e os seus olhos têm uma expressão tão linda...E diz:
- Estou bastante contente por ter contribuído para contraíres essas dívidas.
- Sim, talvez tenhas razão, pai. Mas devo dizer-te que ainda não é tudo. Tenho tantos credores! Pensa em todos esses pobres homens sem pouso que vagabundeavam pela Vermlândia quando eras novo e que passavam o tempo a tocar e a cantar. Devo-lhes as loucas aventuras e as fugas sem conta. E pensa em todas as velhas narradoras de contos que habitam nas cabanas cinzentas à entrada da floresta e que me contavam tantas histórias do Neck, dos feiticeiros e das virgens roubadas pelo Troll. Foram elas, sem dúvida, que me ensinaram a traduzir a poesia da dura montanha e da floresta escura. E depois, pai, pensa em todos os pálidos monges de olhos fundos e em todas as monjas encerradas em sombrios conventos que tiveram visões e ouviram vozes. Sou-lhes devedora  pois servi-me do grande tesouro de lendas que amontoaram. E pensa, finalmente, nos camponeses da Dalecárdia que partiram para Jerusalém. Não lhes devo a acção heróica que me deram a narrar? E nao me bastou ter contraído dívidas com os homens...tenho por credora toda a Natureza. Há os animais da terra, as aves do céu, as flores e as árvores. Todos têm tido os seus segredos para me confiar. (...)"


Selma Lagerlöf foi uma escritora sueca que nasceu em 1858 e morreu em 1940. Foi a primeira mulher a ganhar o Prémio Nobel da Literatura, em 1909.

Nasceu com um problema articular na perna esquerda, o que fez com que tivesse uma infância e juventude mais isolada do contacto com outras crianças e jovens, mas que por outro lado desenvolveu um gosto muito particular pela leitura.

Vivia na província de Värmland, oeste da Suécia, local de inúmeros mitos, lendas e histórias de fantasmas. Eram frequentes as histórias e contos populares que circulavam, recorrendo a estes temas, com personagens dos mundos fantásticos.

Selma Lagerlöf, no final do século XIX, cria as suas histórias com recurso a estes padrões, mesclados de gnomos, duendes e fantasmas, o que lhe conferiu o título de contadora de histórias e contos populares.

O primeiro livro que li desta senhora fantástica, chama-se A maravilhosa viagem de Nils Holgersson através da Suécia, escrito entre 1906 e 1907.

Um livro juvenil, escrito em resposta ao pedido de Alfred Dalin, diretor de uma escola, que gostaria de ter um livro que ensinasse as crianças sobre a história e geografia do seu país.

Após uma extensa pesquisa e várias viagens através da Suécia, cria a personagem de Nils, um jovem que por acaso vê-se a viajar no dorso de um ganso num voo migratório de um bando de gansos selvagens à Lapónia.



"Nils, um menino preguiçoso e desobediente que se diverte em maltratar os animais, num domingo em que os pais haviam ido à igreja, aprisiona um duende e, como castigo, é transformado também em duende. Ao subir nas costas de Mårten, um dos gansos de sua propriedade, a ave resolve, num impulso, seguir os gansos selvagens na primavera, e Nils segue viagem com eles. 

Inicialmente assustado, depois mais confiante, atravessa a Suécia nas costas do ganso, participando de várias aventuras no mundo dos animais. Entre essas aventuras conhece os lapões, quase salva uma cidade que só aparece a cada cem anos, e se torna amigo de vários animais. 


Sete meses depois, tendo aprendido muito e se tornado uma pessoa melhor, volta à casa de seus pais e à forma humana novamente, mostrando aos poucos que é capaz de sacrificar a própria felicidade à dos outros."

(http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Maravilhosa_Viagem_de_Nils_Holgersson_atrav%C3%A9s_da_Su%C3%A9cia)

No prefácio deste livro apaixonante Selma Lagerlöf refere : "liberdade, a harmonia e a vida, são belas mas esquivas e diz-se que não gostam de esperar".


Selo da Alemanha de 2008, mostra Nils Holgersson voando nas costas do ganso Mårten 

5 comentários:

  1. Que bonito A Caminhante :)

    Parecem ser histórias muito interessantes, escritas por alguém que vê o mundo de uma forma tão intensa e especial.

    Gostei bastante de uma frase que disseram da escritora na entrega do nobel: "Para ela a natureza, mesmo inanimada, possui vida própria, invisível e contudo real"...muito bonito..

    Obrigado pela partilha :D

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    1. Olá Carla

      De facto é uma escritora com uma linguagem simples mas em que o mundo natural vive nas suas palavras.
      Essa frase é de facto bem bonita.
      Vale a pena ler, pelo menos um dos seus livros para conhecer esta escritora tão especial. Se quiseres posso emprestar.

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  2. Olá caminhante,

    Bem gostei bastante de ler o teu comentário e confesso que mesmo os contos não serem a minha praia, parece-me extremamente interessante.

    Pelo que percebo aqui apenas estás a comentar um dos contos do livro é isso ?

    Gostava de um dia poder viver uma demanda dessas, nas costas de um ganso, pelo que vejo deve ser uma bela demanda :D

    Bjs e boas leituras ;)

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    1. Olá Fiacha
      acho que deves dar mais uma oportunidade aos contos, há escritores que escrevem contos lindíssimos. (se bem que sou suspeita, começo a perceber que os contos são um dos géneros literários que mais aprecio :) )
      Eu fiz este comentário, porque não resisti ao ler o primeiro conto. E de facto é dele o paragrafo que apresento. Depois faço um comentário sobre a autora e sobre um outro livro dela que li há já algum tempo.
      Quando terminar "O Livro das Lendas" farei o comentário sobre o livro e sobre todos os contos de uma forma geral.
      Quanto ao viajar num ganso :) eu escolheria outra ave, mas seja ela qual for, deve ser fantástico. Observar tudo e compreender o espaço geográfico, a paisagem, a beleza :)
      bjs e boas leituras para ti também

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  3. Olá Caminhante,

    desejo lhe ofertar algo, mas precisa ir ao meu blog, no ítem "meu selo", espero q goste da prenda. E saiba q fiz com muito carinho e dedicação!

    Abraços, e boas leituras :D

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